domingo, 25 de abril de 2010

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada..

Ela sempre ouvia dizer, que depois dos 15 a vida passa voando.
Não é bem verdade, acredito mais que a vida passa voando depois que inventa-se de trabalhar.
Foi o que ela percebeu, quando começou a perder os detalhes bons, como tardes vazias, por-do-sol da janela do seu quarto.
Ah. A Janela do quarto, é onde ela via toda sua vida passar como um filme, sentia uma pontadinha de dor, por que é tão fugaz.
(...) na sensação estranha de um domingo, ela se sentou para almoçar, com seus pais. Comentou o quanto passa rapido a vida:
- Fico pensando, a gente fica velho tão rapido! - disse ela.
- É, eu me sentei a pouco e pensei: "Já vivi meio século." - disse a ela, o pai.

Começou questionar as coisas da vida dele, de quando ele tinha sua idade. Tanta coisa descobriu, até fumante ele já foi. Pensativa, pegou seu prato, pôs à pia, e saiu sem pedir licença. Deitou-se no sofá e continuou com seus pensamento...
" Tantas coisas meu pai viveu, tantos detalhes que esvairam ao vento, e ao tempo, coisas que agora já não importam mais, coisas como minhas coisas, das quais me preocupo tanto, me magoam tanto, mechem tanto comigo, com o tempo, não vão mais importar, não vão mais valer de nada, vão ser apenas lembranças, algumas coisa já esquecidas, outras nunca tiradas do peito, apenas lembranças, de pessoas que mesmo que foram tão importantes, já não estão ali a tempos."
Ela pensou nas pessoas que já sairam da sua vida, e ela nunca mais ouviu falar, pessoas que ela amou. Ela pensou nas pessoas que estão na vida dela, que ela não queria longe da vida dela, mas que ela pode nunca mais ouvir falar. Ela concluiu, "minha familia é tudo pra mim", "minha familia sempre estará comigo", ela concluiu, concluiu que mesmo sendo tão transparente, apenas ela, somente ela é que sempre saberá do que viveu, então decidiu, quardar bem fundo o seu amor, e percebeu que ninguém dele precisa e nem quer saber. Vai passar logo, tudo passa tão rápido. É tão fugaz.



" Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. "
(Grégório de Matos) - Representação da fugacidade da vida no Barroco.